E quem sabe seja real...



Eu podia sentir os braços gélidos me puxarem urgentemente para o escuro. Meus olhos estavam cegos, o frio percorria minha espinha, sobrando apenas calafríos. Meus pés estavam congelados, presos ao chão. Eu não me via, não vida nada além de escuridão. - Estreitei meus olhos, procurando por um caminho, mas eles perderam o foco quando visaram algo incompreensível. Eu podia ver meu reflexo em seus olhos, eu ví o quão longe eu havia ido. Seus olhos escuros, tristes e intensos fitavam agonizantemente o meu rosto. Sua boca se abriu, fazendo seus lábios se separarem, a linha que juntava eles, desapareceu. Eu me concentrei, procurando algum som, qualquer tipo de som que pudesse sair dentre seus lábios. Mas nada podia ser dito. A angústia estava desenhada em seus olhos, que por um momento... Pareciam com os meus. Sua boca se fechou rapidamente, ouve um estrondo; era sua mandíbula apertada. - Pensei que algum osso havia sido quebrado. Um sorriso fraco, desgastado e forçado apareceu em sua face. Seus olhos continuavam silenciosos, amargurados. De repente, eu sentí uma estranha necessidade de ajudá-lo, de tirá-lo do fundo do poço que eu havia chegado. O sangue ferveu por debaixo da minha pele. O calor começou pelos dedos dos meus pés, subindo constate e inevitávelmente, espalhando-se por todo meu corpo. Eu podia mexer meu pés, tudo ficou tão claro... Eu sobreviveria, eu resistiria a isso. Eu teria de ajudá-lo.
Então, com passos lentos e largos, fui ao seu encontro. Eu podia ver, eu me via... Eu o via. Novamente ele abriu a boca. - Eu erguí a minha mão cautelosamente, tocando seus lábios, fechando-os. Eu queria que ele ficasse quieto, que não se cansasse. Sentí a necessidade de confortá-lo. "Está tudo bem" - eu sussurrei. Seus olhos mudaram, ficaram vívidos, cheios de brilho e esperança. Eu ví seu corpo tremer, desejando se libertar. Quando minha mão tocou seu rosto, foi como um choque, seus tremores tornaram-se mais fortes. Ele andou apenas um passo longo, fechando a distância entre nós. Sentí seus braços envolverem minha cintura, me puxando contra seu peito. Meus olhos se arregalaram, confusos. Ele soltou fortemente o ar pela boca; seus braços me confortaram. Logo, minha cabeça já estava apoiada em seu peito de mármore. As lágrimas percorreram a minha face, então fechei meus olhos; tentando mandá-las embora. De repente, tudo sumiu. Eu abrí meus olhos e me ví na frente de um enorme espelho. Meu reflexo imitava cada ação minha. Era isso, aquela criatura amargurada era somente o meu "eu amedrontado", cegado pelas dificuldades. Eu sabia que agora ele tinha partido, eu estava liberta; finalmente. Eu sabia que podia resistir, lutar, sobreviver. Era isso que importava. Eu iria aprender a cair levantar e continuar; até que as forças em mim... Se acabem.

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